01 fev 2018

SILVIA STORPIRTIS

Graduada em Farmácia e Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo – FCF-USP (1982 – Fármaco e Medicamentos), com mestrado (1987 – área de Controle de Qualidade de Medicamentos: Desenvolvimento de Métodos Analíticos) e doutorado (1992 – área de Farmacocinética) pela FCF-USP. Possui especialização nas áreas de “Biofarmácia e Farmacocinética” e “Farmácia Clínica” pela Universidade do Chile.

Atualmente é Professora Associada do Departamento de Farmácia da FCF-USP, responsável pela disciplina “Biofarmacotécnica” (Biofarmácia) e corresponsável pela disciplina “Fundamentos de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica” na FCF-USP.

É orientadora de mestrado e doutorado e desenvolve pesquisas nas áreas de: 1 – Biofarmacotécnica (Biofarmácia) – com ênfase na avaliação da permeabilidade de fármacos e candidatos a fármacos por meio de culturas celulares in vitro; 2 – Farmácia Clínica, Assistência e Atenção Farmacêuticas. É responsável pela disciplina “Biofarmacotécnica: estudos de permeabilidade de fármacos” do Programa de Pós-Graduação em Fármaco e Medicamentos do Departamento de Farmácia da FCF-USP e pelo “Laboratório de Estudos de Permeabilidade de Fármacos por meio de Culturas Celulares In vitro” do mesmo Departamento.

Foi Diretora-Técnica da Divisão de Farmácia e Laboratório Clínico do Hospital Universitário da USP (HU-USP) de 1992 a 2010 e Coordenadora do Curso de Especialização em Farmácia Clínica Hospitalar promovido pela FCF-USP e HU-USP de 1993 a 2010. Participou da elaboração e da revisão da regulamentação técnica brasileira sobre Medicamentos Genéricos e Similares e foi Consultora Técnica da ANVISA na área de Biodisponibilidade e Bioequivalência de Medicamentos no período de 1999 – 2006. Foi membro do Grupo de Trabalho de Bioequivalência da Rede Panamericana de Harmonização da Regulamentação Farmacêutica da Organização Pan-americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde entre 2000 – 2006.

É coordenadora do Comitê Técnico Temático (CTT) de Equivalência Farmacêutica e Bioequivalência de Medicamentos da Farmacopeia Brasileira. É Membro do “USP Brazil Advisory Group” criado em 2008 para dar suporte às atividades técnicas e científicas da Farmacopeia Americana no Brasil.

É membro da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH) e foi Presidente da Comissão de Título de Especialista em Farmácia Hospitalar concedido pela SBRAFH no período de 2005 a 2009.

Assumiu a Coordenação Docente da Farmácia Universitária da FCF-USP (FARMUSP) em dezembro de 2007 e é responsável pela alteração do modelo de atuação desta Farmácia-Escola reinaugurada como um Polo de Ensino, Pesquisa e Extensão à Comunidade em Assistência e Atenção Farmacêuticas. Coordena o Polo São Paulo do Curso de Gestão da Assistência Farmacêutica – Curso de Especialização à Distância (Convênio entre a Universidade Federal de Santa Catarina e a FCF-USP).

Publicou mais de 70 artigos científicos em revistas indexadas e mais de 20 capítulos de livros. Publicou três livros pela Editora Guanabara Koogan – Grupo GEN: “Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica” em 2008; “Biofarmacotécnica” em 2009 e “Farmacocinética Básica e Aplicada” em 2011.

Docente colaboradora na Pós-graduação da Facultad de Ciencias Quimicas y Farmacéuticas – Universidad de Chile. Consultora das agências reguladoras do Peru e da Colômbia para a implantação de estudos de bioequivalência para medicamentos genéricos. Conferencista em eventos nacionais e internacionais.

Discurso de posse como Membro Titular na Academia Nacional de Farmácia

Excelentíssimo Prof. Dr. Lauro Moretto, Presidente da Academia Nacional de Farmácia, por meio de quem saúdo os Excelentíssimos Acadêmicos Membros da Mesa, Excelentíssimas Autoridades Presentes, Senhoras e Senhores:

Nesse momento, com muita emoção, tenho a honra de dirigir-me a todos, expressando, em primeiro lugar, gratidão pelo convite recebido que possibilitou meu ingresso nessa prestigiosa Instituição.

Fui convidada a ocupar a Cadeira de número 11 dessa Academia, honra anteriormente concedida ao Professor Dr. João Florentino Meira de Vasconcelos. Por tantas e tão significativas realizações, rendo, nesse momento uma homenagem ao Professor Meira de Vasconcelos, como era conhecido, por meio de um breve resumo de sua vida e obra, tomando-o a partir de hoje como exemplo de profissional, docente e pesquisador de incontestável envergadura.

Nascido em 1865, na cidade do Pilar, na então província Paraíba do Norte, o Professor Meira de Vasconcelos era filho do Dr. João Florentino Meira de Vasconcelos, Juiz e Senador do Império, e de D. Maria Amélia de Paiva Meira. O referido Professor diplomou-se em Farmácia em 1886 pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Estabeleceu-se na cidade de Campinas, São Paulo, com a “Farmácia Meira”. Foi um profissional exemplar e defendeu os legítimos interesses da classe farmacêutica.

Transferiu posteriormente a “Farmácia Meira” para a Capital, onde começou a exercer também atividades políticas, seguindo os passos de seu pai. Em 1896 fundou a “Sociedade Farmacêutica”, a qual presidiu com brilhantismo. Essa Sociedade foi a semente da “Escola Livre de Farmácia”, fundada em 12 de outubro de 1898, que deu origem à Faculdade de Farmácia e Odontologia da Universidade de São Paulo, embrião da atual Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Na “Escola Livre de Farmácia” foi Professor Catedrático de “Farmácia: Teoria e Prática”. Foi pesquisador e publicou o livro “Elementos de Farmácia”, preocupado em ajudar seus alunos no aprendizado das técnicas vivenciadas em sala de aula. Outro fato digno de nota, entre tantas realizações do Prof. Meira de Vasconcelos, foi sua participação ativa na organização e promoção da “Farmacopeia Paulista”, trabalhando incansavelmente pela sua adoção.

Foi criativo, persistente e idealista, e contribuiu sobremaneira com o desenvolvimento da Farmácia no Brasil, particularmente, com as bases de uma de suas disciplinas fundamentais, a Farmacotécnica, ao realizar pesquisas que resultaram em formulações farmacêuticas de grande impacto na terapêutica em sua época.

Após essa singela homenagem, irei discorrer sobre alguns fatos que marcaram minha trajetória profissional e minhas escolhas.

Cursei o primário, o ginasial e o colegial em escolas públicas e ingressei na “Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP” em 1977, o que ocorreu em grande parte graças à bondade e ao esforço dos meus pais, Casemiro e Iracema.

Confesso aos senhores que comecei a me sentir uma futura profissional farmacêutica quando cursei as disciplinas de Farmacologia, Farmacodinâmica, Química Farmacêutica, Farmacotécnica e Controle de Qualidade. Além disso, estar no laboratório me fascinava!

Entretanto, pude descobrir minha vocação para a docência e a pesquisa graças a vários mestres com quem convivi durante a Pós-graduação que cursei no Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Nesse caminho, ingressei na carreira docente em 1988, integrando o quadro docente do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, o que possibilitou ampliar meus horizontes, estabelecer parcerias com outros pesquisadores do Brasil e do Exterior e desenvolver pesquisas na área de Biofarmacotécnica, iniciando a orientação de alunos de Pós-graduação.

Em 1992, ao concluir o Doutorado, fui convidada a assumir a Diretoria da Divisão de Farmácia e Laboratório Clínico do Hospital Universitário da USP, onde permaneci até 2010, desfrutando da companhia e dos ensinamentos compartilhados com excelentes profissionais, entre eles, farmacêuticos, médicos, enfermeiros, nutricionistas e odontólogos.

Essa experiência me mostrou que além de fazermos pesquisas que colaborem para a melhoria da qualidade dos medicamentos disponibilizados ao tratamento de um paciente é necessário dispor de profissionais capacitados, que trabalhem em equipe, e que mantenham o foco do seu trabalho na real melhoria da qualidade de vida do paciente.

Foi assim que, com a colaboração de vários colegas, implementamos a prática da Farmácia Clínica e, posteriormente, da Atenção Farmacêutica Ambulatorial no Hospital Universitário da USP, iniciando também uma linha de pesquisa nessa área.

Porém, outra experiência marcou igualmente minha trajetória: a colaboração com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa – para a implantação dos medicamentos genéricos no Brasil e para o desenvolvimento dos trabalhos da Farmacopeia Brasileira.

Minha colaboração com a Anvisa me fez vislumbrar que não basta dispormos dos melhores medicamentos e de profissionais capacitados para atender um paciente: precisamos dispor de Políticas Públicas adequadas, voltadas à solução dos problemas reais que afligem a população. Políticas que contemplem o estabelecimento de parcerias, o desenvolvimento de pesquisas, a transferência de tecnologias e a aplicação dos resultados obtidos para o benefício da comunidade.

Destaquei essas vivências, fundamentais para minha formação como docente e pesquisadora, para apresentar aos senhores meu maior desafio atual: um projeto que integra o ensino, a pesquisa, a prestação de serviços à comunidade e as políticas públicas na área de Assistência Farmacêutica. Esse desafio, compartilhado com vários colegas de trabalho, corresponde à implantação de um novo modelo de atuação para a Farmácia Universitária da USP, a FARMUSP, primeira Farmácia-Escola do Estado de São Paulo, cuja gestão cabe ao Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

Nesse desafio, estamos agregando duas grandes áreas do conhecimento em Ciências Farmacêuticas: a tecnologia aplicada à qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos e os aspectos clínicos e humanísticos relacionados à Atenção Farmacêutica, prática profissional já consagrada em diversos países, que requer a interação do farmacêutico com o paciente e com os demais profissionais da equipe de saúde.

Levar a cabo esse desafio requer, especialmente, esforços para uma verdadeira mudança de paradigma no ensino de graduação e pós-graduação na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, envolvendo a Farmácia Universitária da USP.

É um desafio ousado, mas o que vale a vida sem desafios?! Queremos que nossos alunos de graduação, de pós-graduação e de residência participem da construção de um novo modelo de Farmácia-Escola no Brasil, aquele que desenvolve a Atenção Farmacêutica voltada à resolução dos problemas relacionados ao uso de medicamentos e à promoção da racionalidade na utilização desses recursos terapêuticos.

Quem sabe se no futuro esse novo modelo de Farmácia-Escola não poderá influenciar a discussão sobre a construção de um novo modelo para as Farmácias em todo o Brasil? A Farmácia que promove a saúde, por meio de práticas que estão muito além dos aspectos comerciais que predominam nesses estabelecimentos há décadas!

Prezadas senhoras e senhores, finalizo agora minha exposição com alguns agradecimentos especiais:

Agradeço a Deus e aos meus mestres pelas oportunidades que tive até hoje.

Agradeço à minha mãe, Iracema, que por sua coragem, venceu grandes desafios, estando sempre à frente de seu tempo.

Agradeço o apoio do meu esposo Paulo, que sempre me incentivou, a despeito das horas, muitas vezes excessivas, que dedico ao meu trabalho.

Dedico essa medalha à minha mãe, ao meu esposo e ao meu filho Matheus, razão dos meus esforços, minha vida e meu orgulho!

E, finalmente, compartilho essa medalha com todos os meus alunos, razão primordial do meu trabalho!

Muito obrigada!!!

São Paulo, 5 de Abril de 2013