Farmacopeia brasileira 230 de uma trajetória em construção
A abertura da exposição ocorreu em 09.12.2024 na sede da ANVISA, em Brasília.
A exposição “Farmacopeia Brasileira – 230 anos de uma trajetória em construção” estabelece um espaço que promove a reflexão sobre o processo evolutivo desse tema no Brasil como uma rede complexa e ativa. Esta rede inclui profissionais, pesquisadores e instituições que contribuem para a construção contínua da farmacopeia nacional, garantindo qualidade e segurança aos medicamentos e dispositivos médicos, impactando significativamente na saúde e no bem-estar da população.
As farmacopeias são compêndios oficiais elaborados por cientistas e aprovados por autoridades de saúde, que definem padrões mínimos de qualidade, autenticidade e pureza para substâncias farmacêuticas, medicamentos e outros produtos. Elas contêm, monografias distribuídas em capítulos, e funcionam como referência científica para garantir a qualidade e orientar a fiscalização desses produtos. A palavra “farmacopeia” tem origem no grego antigo φαρμακοποιΐα (pharmakopoiia), composto por φαρμακο- (pharmako-), que significa “remédio”, seguido do radical verbal ποι- (poi-), que significa “produzir”, e pela terminação abstrata -ια (-ia). A combinação desses elementos pode ser entendida como ″fabricação de medicamentos″ ou “fazer um medicamento” (DE OLIVEIRA; DE SOUZA LIMA FILHO; MORETTO, 2022, p. 49).
Entre os séculos II e III d.C., o historiador grego Diógenes Laércio utilizou o termo “Farmacopeia” para descrever a arte de preparar medicamentos, marcando um de seus primeiros registros históricos. O médico francês Jacques Du Bois deu uma nova vida ao termo ao adotá-lo como título de sua obra Pharmacopoeae, libri tres, em 1548. Mais tarde, em 1561, Anuce Foës, também médico francês, utilizou o termo com a publicação de Pharmacopoea Mediomatrica em Basileia, Suíça (URDANG, 1952, p. 538).
Foi somente em 1573, com a publicação da segunda edição da Pharmacopoeia Augustana, em Augsburg, Alemanha, que o termo começou a ser adotado para designar uma norma farmacêutica oficial. A primeira edição, de 1564, ainda trazia o título Enchiridion, mas na segunda edição o termo Pharmacopoeia se consolidou, embora coexistisse com outras designações, como antidotarium e dispensatorium. A partir de então, o termo foi gradualmente ganhando predominância na Europa, até se consolidar entre o final do século XVI e início do XVII (URDANG, 1952, p. 539).
Esse processo de consolidação gerou diversos marcos históricos na Europa e influenciou também outros contextos, como a publicação da Pharmacopeia Geral para o Reino e Domínios de Portugal, em 1794, por ordem da Rainha D. Maria I. Este foi o primeiro código farmacêutico oficial no Brasil colonial, marcando o início de uma trajetória que resultou na consolidação da Farmacopeia Brasileira, cujo legado se estende por 230 anos.
Estes mais de dois séculos de história se entrelaçam com um processo de longa duração, marcado por influências que atravessam períodos, culturas e continentes, desde as antigas civilizações da Mesopotâmia até a publicação da 7ª edição da Farmacopeia Brasileira. Vamos explorar essa fascinante trajetória, destacando como as farmacopeias se moldaram através das interações entre pessoas, práticas e a rica biodiversidade que nos cerca, com cada um de seus agentes históricos sendo ativos na produção da existência do que hoje entendemos como a prática farmacêutica no Brasil.
A exposição estará aberta ao público em geral do dia 10 a 20 de dezembro, no período das 9h às 18h, na sede da Anvisa.
Os visitantes poderão apreciar painéis com reproduções de documentos históricos, incluindo alguns da antiguidade, da Idade Média e os primeiros exemplares das mais renomadas farmacopeias modernas, com ênfase nos períodos colonial, imperial e republicano do Brasil que são parte do acervo do Espaço Memória das Ciências Farmacêuticas da ACFB.
A ação, conta com o apoio da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (Acessa), Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Grupo Farma Brasil, Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Luft Logistics, Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (PróGenéricos) e do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).