01 fev 2018

LEON RABINOVICH

Graduado Farmacêutico Químico na Faculdade Nacional de Farmácia da ex-Universidade do Brasil, atual UFRJ, turma de 1962 paraninfada pelo senador Juscelino Kubistchek de Oliveira. Concluiu o curso de graduação com medalha de ouro, outorgada na solenidade de formatura. Desde então se dedicou à Microbiologia, especialmente à Bacteriologia e Fisiologia de Microrganismos, tendo sido levado ao Instituto de Microbiologia da UFRJ (atual IMPPG) por Fernando Steele da Cruz, colega de graduação, então Professor desse Instituto. Foi discípulo de Luiz Rodolfo Travassos e Amadeu Cury, Professores do Instituto.

Na Universidade Federal Fluminense – UFF, por ter a especialidade em Fermentações obtida no Instituto Nacional de Tecnologia na década de 1960, foi Professor de Enzimologia e Tecnologia das Fermentações I e II, disciplinas que implantou desde o surgimento da UFF, onde foi Professor Adjunto IV até se aposentar.

Ingressou como bolsista no Instituto Oswaldo Cruz – IOC do Ministério da Saúde (MS) em 1964, hoje integrando a Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ, onde é Pesquisador Titular há mais de 18 anos. Criou e chefia atualmente o Laboratório de Fisiologia Bacteriana, que encerra o Laboratório de Referência Nacional para Carbúnculo e a Coleção de Culturas do Gênero Bacillus e Gêneros Correlatos – CCGB (filiada à World Federation for Culture Collection), coleção bacteriana que é fiel depositária para o Ministério do Meio Ambiente brasileiro.

Foi membro de várias comissões no IOC e Vice-Diretor do Instituto na administração Sérgio Gonçalves Coutinho. Criou e Coordena a disciplina de Microbiologia Básica destinada à Pós-graduação no IOC, stricto sensu. Formou várias gerações de profissionais, mestres e doutores. Publicou capítulos em livros e artigos de pesquisa em periódicos científicos. Integrou inúmeras bancas de concurso público e de Pós-graduação por mais de quatro lustros.

Discurso de posse como Membro Titular na Academia Nacional de Farmácia

– Exmo. Senhor Dr. Caio Romero Cavalcanti, Presidente da Academia Nacional de Farmácia.
– Meus confrades de posse, General de Brigada Médico Dr. Dino Garcia Abreu, Acadêmico. Coronel Farmacêutico Dr. João Paulo Silva Vieira, Acadêmico.
– Acadêmico Dr. Geraldo Halfeld, demais colegas de Academia, meus colegas de Laboratório, meus amigos.
– Minhas Senhoras. Meus Senhores.

Dirijo as minhas primeiras palavras à Egrégia Academia Nacional de Farmácia para, transferir a ela, através do seu ilustre Presidente Acadêmico Dr. Caio Romero Cavalcanti, os melhores agradecimentos pelo meu acolhimento nesta sociedade composta de profissionais notáveis. Agradeço aos ilustres Acadêmicos que avaliaram-me e julgaram-me para integrar esta Egrégia corporação, e ocupar a cadeira de número 73, então pertencente ao Acadêmico Professor Mário Taveira.

Ao ser distinguido com a honra do convite para uma candidatura, há cerca de um ano, naquele instante não foi possível para mim aquilatar a importância e o significado de integrar este Cenáculo Farmacêutico. Haveria a necessidade de se provar um valor técnico-científico suficiente, e este meu pensar foi bem recebido e acatado pelo ilustríssimo amigo e Acadêmico Dr. Sérgio Portocarreiro de Souza, que encontrou na minha pessoa um candidato à Seção de Ciências Naturais da Academia Nacional de Farmácia.

Preocupando-me em atender a confiança em mim depositada pelo confrade Dr. Sérgio Portocarreiro de Souza, imaginei submeter os produtos das minhas atividades profissionais à avaliação de doutos, e esses produtos se relacionam com os resultados do ensino e da pesquisa. Como Farmacêutico e Pesquisador na área biológica pude ingressar na mui estimada Faculdade de Farmácia da Universidade Federal Fluminense – UFF, onde tive a felicidade e a satisfação de implantar as Disciplinas de Enzimologia e Tecnologia das Fermentações I e II; a primeira era lecionada exclusivamente para as diferentes modalidades de graduação de Farmacêuticos – opção industrial e opção bioquímica.

A segunda Disciplina era ministrada para alunos da Universidade inscritos no Instituto de Química, concorrentes à graduação em Química Industrial.

Foram aí dispensados 30 anos de trabalho, no decorrer dos quais conquistei a titulação de Livre-Docente, em 1981.

Como Pesquisador, devotado à nobre e cativante Microbiologia, mais particularmente à Bacteriologia aplicada, neste mister destinei toda a minha vida profissional, não somente dedicando-me à pesquisa científica pura e simplesmente, mas, também, voltei-me para o ensino de Pós-Graduação – excitante tarefa de desenvolver e preparar recursos humanos para além da simples graduação universitária do terceiro grau.

Não posso deixar de mencionar nesta oportunidade, a predileção pela Bacteriologia dos Bacillus, através da qual pude humildemente colaborar com a redação de alguns trabalhos fruto de pesquisas em laboratório, estas em geral voltadas para retribuir à nossa sociedade os seus investimentos. Criar utilidades práticas com diferentes espécies deste gênero bacteriano foi a tônica dessas pesquisas.

Não posso também deixar de exaltar o fato de ter sido acolhido no Instituto Oswaldo Cruz, hoje uma das unidades da Fundação Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde, na época do então Chefe de Departamento Dr. Gobert Araújo Costa, eminente pesquisador e professor de Bacteriologia Médica, de quem fui aluno, e que me introduziu no seu laboratório, no Departamento de Bacteriologia do Instituto, nos idos de 1963, com a finalidade de executar projeto por ele elaborado em conjunto com o então lente de Higiene Dr. Fausto Pereira Guimarães, Médico, docente na Faculdade Nacional de Farmácia e chefe de setor de qualidade microbiológica de águas de abastecimento, da antiga Superintendência de Saneamento do Estado, a SURSAN.

No Instituto criado pelo renomado Dr. Oswaldo Gonçalves Cruz – Instituto de Manguinhos, pude desenvolver-me profissionalmente em função de um alto grau de liberdade criativa que a instituição permite aos seus Pesquisadores. Isto não quer necessariamente significar abundância de recursos oficiais destinados à Pesquisa Científica em geral, pelo contrário. Durante muitos anos, no passado, vários Pesquisadores não tiveram mais do que poucos centavos investidos nos seus projetos de investigação. Apesar disso, hoje o Instituto Oswaldo Cruz e a própria Fundação Oswaldo Cruz representam um centro de excelência do Governo Federal no campo da Saúde Pública, bem como na formação de recursos humanos.

Neste momento, direciono também as minhas palavras para reverenciar o ilustre patrono da cadeira número 73 desta Academia, a qual tenho a subida honra de ocupar.

Professor Mário Taveira, professor universitário e Acadêmico.

Conheci pessoalmente o insigne mestre Mário Taveira, pois fui seu aluno na Faculdade Nacional de Farmácia da ex-Universidade do Brasil, Praia Vermelha, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Convivi com o mestre quase que diariamente, professor catedrático de Química Bromatológica e Toxicológica, além de frequentar o seu gabinete de Diretor da Faculdade, casa de ensino superior que nos deixa profundas saudades. Tinha com ele um relacionamento amigável e respeitoso, mesmo quando eu me dirigia à sua pessoa, a fim de reivindicar ajuda para o Centro Acadêmico “Rodolfo Albino”, o qual tive a honra de vice-presidir e mesmo presidir. Como aluno então, lembro-me de um aprendizado sólido, das matérias que compunham a Bromatologia e Toxicologia, disciplinas de expressivo valor na formação do profissional Farmacêutico que está voltado para a indústria de alimentos e exames toxicológicos, importantíssimas na atualidade quando se fala tanto em biossegurança e intoxicações alimentares.

Já foi escrito acerca do Acadêmico Mário Taveira, que “o Professor era dotado de grandes qualidades e um espírito culto, brilhante, organizador e dinamismo digno de nota”.

Empossado como Diretor da Faculdade Nacional de Farmácia em 9 de abril de 1945, o Professor Taveira “realizou uma administração das mais empreendedoras, competente”, particularmente em função “de sua larga visão dos problemas atinentes à profissão farmacêutica”. “Foi membro de diversos Congressos Brasileiros de Farmácia e Química”, assim como “coordenou projetos de pesquisas apoiados pelo Conselho Nacional de Pesquisas, desde 1951”, foi Diretor interino na área de Bromatologia e Toxicologia daquele Conselho de dezembro de 1951 a maio de 1952. “Presidiu esta nobre Academia de 1954 a 1955. Publicou vários trabalhos relacionados com a Química Bromatológica das cervejas elaboradas em nosso meio, do café produzido no País, das essências e corantes de origem biológica e sintética”.

Pessoalmente, beneficiei-me como aluno da organização da sua cadeira, de Química Bromatológica e Toxicológica, não somente sob o ponto de vista técnico-científico, como também sob o ponto de vista organizacional do seu corpo técnico, naquela época constituído de Auxiliar Técnico de Laboratório, Técnico de Laboratório, Professores Estagiários, Assistentes, Adjunto e o próprio Professor Catedrático, características de uma cadeira que hoje são difíceis de serem encontradas na Universidade atual.

Estou orgulhoso de ocupar a cadeira número 73 do Acadêmico Dr. Mário Taveira.

Senhoras e Senhores aqui presentes, Senhores membros da excelsa Academia Nacional de Farmácia, neste momento que encerro meu pronunciamento, quero fazê-lo com mais um agradecimento, desta feita dirigido a minha família, em especial a minha fiel companheira e esposa, Rosa, que foi o meu esteio, o meu estímulo que me permitiu alcançar o privilégio de hoje.

Muito obrigado.

Rio de Janeiro, 17 de agosto de 2000.