01 fev 2018

EZEQUIEL PAULO VIRIATO

EZEQUIEL PAULO VIRIATO

Graduado em Farmácia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo; Mestre em Homeopatia pela Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo – Centro de Ensino Superior de Homeopatia; Especialista em Homeopatia pela Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo; Especialista em Farmácia Magistral pela Anfarmag; Docente da disciplina de Farmácia Homeopática no curso de graduação de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímicas Oswaldo Cruz SP; Coordenador do curso de Práticas Integrativas – Homeopatia, do Centro de Pós–Graduação Oswaldo Cruz; Professor do Curso de Assuntos Regulatórios do Centro de Pós–Graduação Oswaldo Cruz; Membro do Comitê Técnico de Homeopatia da Farmacopeia Brasileira; Membro do Grupo de Trabalho de Práticas Integrativas – Homeopatia e Medicamentos Homeopáticos do Conselho Federal de Farmácia; Gerente Industrial do Laboratório Homeopático Almeida Prado.


Discurso de posse como Membro Titular na Academia Nacional de Farmácia

DD Acadêmico Prof. Dr. Lauro Moretto, Presidente da Academia Nacional de Farmácia e Acadêmico Dr. Caio Romero Cavalcanti, Presidente Emérito da Academia Nacional de Farmácia, DD Dr. Walter da Silva Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia, ilustres doutores nos quais saúdo os demais componentes da mesa.

Colegas farmacêuticos Maria Izabel de Almeida Prado e José Antonio Batistuzzo que também tomam posse hoje como acadêmicos titulares nesta solenidade.

Acadêmicos da Academia Nacional de Farmácia aqui presentes.

Caros amigos, colegas e convidados.

Meus pais, irmãos, irmã, cunhadas e cunhado.

Minha querida esposa Rosana, meus queridos filhos Jéssica e Leonardo.

Segundo o Ofício datado de 11 de outubro de 2014, o Exmo. Sr. Presidente após aprovação dos pareceres dos acadêmicos que analisaram minha vida profissional, convidou-me a ocupar a cadeira de nº 8 de membro titular da seção de Farmácia da Academia Nacional de Farmácia, que tem porpatrono o farmacêutico Francisco Manoel da Silva Araújo.

Não consigo descrever a emoção que senti ao receber esse honroso convite. É a realização de um sonho jamais sonhado por achá-lo impossível de merecê-lo e, paradoxalmente, um sonho sempre sonhado por considerá-lo a realização plena de uma carreira.

É de conhecimento de todos que a Academia Nacional de Farmácia é uma associação civil científica fundada em 13 de agosto de 1937, tendo como sede a cidade do Rio de Janeiro. E que seus principais objetivos incluem:

– Estudar, debater e divulgar tudo o que relacione com a Farmácia e as ciências afins bem como promover iniciativas e medidas que visem ao aprimoramento cultural e tecnológico da Farmácia e das atividades profissionais a ela relacionadas.

Neste momento, cumpre-me destacar as virtudes do patrono da cadeira na qual assumo:

Francisco Manoel da Silva Araújo, farmacêutico, nascido nos idos de 1850, na Freguezia de N. S. do Pilar, município fluminense de Estrela. É considerado um dos pioneiros da indústria farmacêutica no Brasil.

Um dos filhos do casal Joaquim Caetano da Silva Araujo e D. Rita Ferreira da Silva Araujo, soube corresponder, pela sua inteligência marcante e pela ética nas suas atitudes bem definidas, aos devotamentos sem limites de seus pais.

Em 1874, se torna sócio da farmácia Silva Araújo, juntamente com o seu irmão farmacêutico, Luiz Eduardo da Silva Araújo, por influência de seu tio, o também farmacêutico Francisco Manoel, de quem herdou o nome.

Foi uma grande figura científica da Farmácia no Brasil. Teve enorme intuição profissional, probidade e esforço que o levaram à lenta ascensão econômica, mas vertiginosa conquista da fama, graças à aquisição de conhecimentos sobre nossa flora.

O Segundo Império foi uma época brilhante da ciência médica e a Farmácia Silva Araújo era o ponto de encontro desta intelectualidade. Um vulto extraordinário dessa época, o médico Dr. João Vicente Torres Homem (1837-1887), médico do Paço Imperial, fez da Casa Silva Araújo a
farmácia de sua confiança, levando seus discípulos ao local para ministrar-lhes conhecimentos práticos, dando-lhes ao mesmo tempo uma amostra e exemplo de ética no campo da farmacotécnica.

A farmácia Silva Araújo granjeou tanto prestígio que se tornou fornecedora da Corte, e com ufania o velho farmacêutico Francisco Manoel da Silva Araújo contava que por ocasião de um mal de que foi acometida a princesa Izabel, Dr. Torres Homem recomendou-lhe explicitamente: “Executem minhas prescrições na Silva Araújo”.

Em 1891, Francisco Manoel e seu irmão fundaram o Laboratório Industrial Silva Araujo no Rio de Janeiro, onde souberam imprimir caráter cientifico e industrial na ampliação de suas habilidades farmacêuticas.

Francisco Manoel da Silva Araujo figura entre os maiores produtores e pioneiros no Brasil na fabricação de ampolas para uso hipodérmico, de pílulas e pastilhas comprimidas.

Desde o início, destacou-se com pioneirismo na publicação de catálogos de extratos fluidos produzidos pela empresa, com a descrição em ordem alfabética de plantas medicinais nativas e também do exterior. As drogas que figuraram nas sucessivas edições dos catálogos foram colocadas em ordem alfabética dos seus nomes habituais, com os seguintes itens: classificação botânica, sinonímia científica e vulgar, parte usada, constituintes químicos principais, formas farmacêuticas habituais, usos terapêuticos, posologia da droga e das preparações, produtos oficinais do próprio laboratório e aplicações possíveis destes produtos na formulação e produção de outros.

Apesar dos avanços e das descobertas da ciência na época, sempre defendeu uso e a eficácia do composto vegetal total contido nas plantas. Alegava que o extrato total obtido, ainda que através de processos artesanais, nos decoctos e nos infusos das ervas terapêuticas, não continham apenas um único princípio ativo eficaz, mas também outras substâncias que corroboravam para uma ação mais abrangente e completa e por isso considerava preferível esse extrato total à uma substância química isolada.

Os produtos do Laboratório Silva Araujo eram numerosíssimos; entre eles sobressaíam o Guaraná Iodo Kola Granulado e os conhecidos e afamados tônicos sendo o mais importante deles o famoso Vinho Reconstituinte Silva Araujo, um dos produtos de exportação da indústria brasileira no início do século XX.

Quem tem mais de cinquenta anos vai talvez lembrar do vinho Reconstituinte Silva Araujo, na prateleira, ao lado da Emulsão de Scott e do Biotônico Fontoura que seria vendido acompanhado do Almanaque contendo a estória do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato.

Em 1936, o Laboratório Silva Araújo foi vendido ao grupo francês Roussel Uclaf. Surgiu assim o Laboratório Silva Araújo-Roussel S.A conhecido pela sigla SARSA. Possuía 22.000 m2 e em sua época foi o maior laboratório farmacêutico do Brasil. Uma curiosidade é que seu projeto era cópia de uma fábrica francesa do grupo Roussel.

Em 1996, após a fusão entre os laboratórios Hoechst, Merrel Lepetit e a Sarsa (Laboratórios Silva Araújo Roussel S.A.) constitui-se o Laboratório Hoechst Marion Roussel.

Em dezembro de 1999, a alemã Hoechst Marion Roussel e a francesa Rhône-Poulenc, se uniram e como resultado dessa fusão, surgiu a Aventis, que na época tornou-se a segunda maior empresa farmacêutica do mundo.

A Aventis Pharma, com sede em Frankfurt (Alemanha), está presente hoje em 127 países com mais de 72 mil funcionários.

Com esse pequeno resumo gostaria de honrar um dos maiores vultos da nossa Profissão e render hoje, esta homenagem a este dinâmico, batalhador da causa da indústria farmacêutica brasileira.

Como alguns sabem, passei metade da minha vida profissional como farmacêutico de farmácia de manipulação e metade como farmacêutico industrial. Outro grande destaque foi a minha pós-graduação e mestrado em Homeopatia.

Não é o momento, nem mesmo minha intenção defender o uso ou a ciência homeopática, mas gostaria de destacar alguns pontos essenciais.

Desde a década de 1980, a homeopatia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) como uma especialidade médica. É, também, considerada uma especialidade farmacêutica pelo Conselho Federal de Farmácia e uma especialidade médico-veterinária pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária. Recentemente, ainda este ano foi reconhecida como especialidade odontológica pelo Conselho dos Odontólogos. Deve-se salientar ainda que seu uso é incentivado, também, pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que sugere que deve ser implantada em todos os sistemas de saúde do mundo.

Se Hipócrates é considerado o pai da Medicina, Samuel Hahnemann, sem qualquer dúvida, é o pai da homeopatia.

Apesar de embasar o método homeopático sobre a minuciosa observação clínica e experimental, Hahnemann, médico alemão, nos legou alguns pressupostos que permanecem sem explicação segundo o modelo científico cartesiano. Para nós farmacêuticos e profissionais da área da saúde, o medicamento homeopático representa o grande obstáculo para que a racionalidade química e materialista aceite a homeopatia como ciência médica. Por não possuirmos equipamentos capazes de detectar resquícios de matéria ativa em algumas potências de medicamentos homeopáticos, promove-se uma verdadeira discriminação a esta arte de curar e opção terapêutica, esquecendo-se dos resultados clínicos indiscutíveis nos seres humanos, nos animais e até na agronomia e agricultura. Tais resultados eram desacreditados há pouco tempo atrás e ainda o são por aqueles que desconhecem as teorias da Física quântica que estuda e demonstra a ação de uma infinidade de agentes imensuráveis desconhecidos por muitos de nós.

A realidade não é apenas a que enxergamos, apalpamos, quantificamos, sentimos ou na qual convivemos. Ela é muito maior, mais complexa e misteriosa do que podemos imaginar ou perceber visivelmente ou através de equipamentos.

Para finalizar, quero lembrar o que Max Planc bem disse:

“Para os crentes, Deus está no princípio das coisas. Para os cientistas no final de toda a reflexão.”

Quero obedecer a um precioso amigo Eli Moreira que lembra que os brasileiros esquecem-se dos seus heróis e sempre me estimula a enumerar os meus heróis e ser grato por eles.

São meus heróis e sou eternamente grato aos meus professores do Liceu Pasteur, a quem honro em nome da minha professora particular de matemática Laíde Ceragioli aqui presente, que me alfabetizaram e deram a base do meu conhecimento, aos meus colegas de Pasteur que me acompanharam desde o primário, ginásio e colegial. Aos meus professores na faculdade de farmácia da USP/SP por toda bagagem de conhecimento. Aos meus ex-chefes de trabalho, colegas da farmácia de manipulação e do balcão de drogarias, com quem exerci minhas atividades. Agradeço aos professores colegas e meus alunos da Faculdade de farmácia Oswaldo Cruz.

Quero agradecer e registrar o apoio decisivo e incentivo constante de meus mentores e superiores do Laboratório Homeopático Almeida Prado que investiram na minha carreira profissional e acadêmica (Sr. Rubens Gimenes e seu Filho Rubinho), sem os quais certamente não teria conseguido alcançar muitos objetivos em minha carreira.

Aos meus colegas farmacêuticos e funcionários do Lab. Almeida Prado com quem tenho a honra de conviver diariamente, que me ajudam, nas atividades que desenvolvi e que estou desenvolvendo, que contribuem sobremaneira para esse reconhecimento público.

Agradeço aos meus colegas membros da Farmacopeia Homeopática Brasileira. Aos colegas de grupos de Trabalho do Sindusfarma e do Conselho Federal de Farmácia. Aos colegas da COFID/Anvisa, ao meu orientador do mestrado, acadêmico José Carlos Tavares.

Aos meus amigos que conhecem meus defeitos e que mesmo assim continuam ao meu lado me apoiando e incentivando.

Agradeço aos meus irmãos, irmã, cunhados e cunhadas pela presença alegre em todos os momentos.

Ao meu futuro genro e futura nora, que vocês sejam felizes na realização dos sonhos de vocês junto aos meus filhos.

Agradeço à Dita, que faz parte da nossa família, que tem sustentado e suportado todos nós em casa.

Quero agradecer a você, minha esposa Rosana e aos meus filhos: Jéssica e Leonardo, pela dedicação e afeto para comigo e por me ajudaram a superar as dificuldades e a conquistar os meus objetivos. Peço perdão pela falta de elogios, mas quero elogiá-la publicamente. Dizem que atrás de um grande homem tem uma esposa maior ainda e isso é verdade. Tem mesmo! Perdão a vocês pelos períodos de ausência e por todo sofrimento que meus defeitos causam em vocês. Quero registrar minha gratidão pela compreensão e dizer que vocês são minha razão de viver.

Aos meus pais, que tenho o privilégio de tê-los vivos e presentes aqui, pela certeza do que me foi ensinado, não foi em vão, e valeu à pena!

Apesar de não estar mais entre nós, tenho a certeza do orgulho dos meus sogros Sr. Cardoso e D. Elisa que em tudo, sempre me incentivaram.

Todos esses são meus heróis!

Posso dizer que sou muito feliz como Farmacêutico e hoje acadêmico, e continuarei firme acreditando e lutando pelos meus princípios e ideais.

Termino meus pensamentos, referindo-me a Eugene Peterson, professor e teólogo em Vancouver, no Canadá, que declara: “Eu nunca vi Deus. Em um mundo onde quase tudo pode ser pesado, explicado, quantificado, sujeito a análise psicológica e ao controle do rigor científico, persisto em colocar no centro de minha vida esse Deus que nenhum olho jamais viu, nenhum ouvido ouviu e ninguém pode sondar”.

E como tudo em minha vida, quero agradecer ao autor da minha Fé, Jesus Cristo, que me proporcionou chegar até aqui, ajudando-me a enfrentar e superar todos os obstáculos e me fazendo mais que VENCEDOR.

A Ele seja toda GLÓRIA e HONRA. Muito obrigado a todos!

São Paulo, 5 de dezembro de 2014.