01 fev 2018

DANTE ALARIO JUNIOR

Dante Alario Junior

ACADÊMICO TITULAR

Ciências Naturais | Cadeira nº 63

Carlos Benjamin da Silva Araújo

17/06/2011
27/01/1946
 Brasileira

 

Químico Industrial pelo Liceu Eduardo Prado e Farmacêutico pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo.

Possui graduação em Farmácia e Bioquímica pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, graduação em Sociologia e Política pelo Fundação São Paulo – Universidade de São Paulo, especialização em Farmacotecnia pela Universidade de Gênova, especialização em Administração de Empresas pelo Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo.

Atualmente é Presidente Científico da Biolab Farmacêutica.

Tem experiência na área de Engenharia Química, com ênfase em Tecnologia Química.

Presidente da Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil para o Biênio 2023-2025.

Vice-Presidente de Propriedade Intelectual & Inovação (2024) – ABIFINA

 

Discurso de posse como Membro Titular na Academia Nacional de Farmácia

É com satisfação que ocupo a Cadeira de nº 63 da Academia Nacional de Farmácia, cujo Patrono é o Dr. Carlos Benjamin da Silva Araujo.

O Dr. Carlos da Silva Araujo graduou-se em Farmácia na antiga Escola de Farmácia e Odontologia do Instituto O´Granberry, da cidade de Juiz de fora, Minas Gerais, em 1913, aos 19 anos de idade.

Em 1929 graduou-se em Medicina no Rio de Janeiro. Em 1918 sucedeu seu irmão na direção do laboratório Clínico Silva Araujo, que era na ocasião laboratório de análises clínicas, mas que já fabricava as vacinas do tipo Wright e vários produtos biológicos como opoterápicos, soros, tuberculina e outros. Em 1920 fundou a revista “Laboratório Clínico” que dirigiu por muitos anos. Em 1921 ingressou na Sociedade de Medicina e Cirurgia do RJ, onde como membro da Comissão de Farmácia participou por mais de 20 anos daquela sociedade. Em 1922 inaugurou o laboratório industrial farmacêutico, recém construído no Engenho de Dentro.

Neste mesmo ano participou do 1º Congresso Brasileiro de Farmácia. Em 1928 e 1939 participou, respectivamente, do 2º e 3º Congressos Brasileiros de Farmácia.

Em 1937 foi membro da Comissão Executiva do 3º. Congresso Sul Americano de Química e assim foi durante toda sua vida, participando ativamente da comissão de Bio-Farmácia do Serviço Nacional de Farmácia e Medicina (SNFM-SP) como representante da Indústria Farmacêutica; foi membro de inúmeras comissões e conselhos de um sem número de Entidades. Publicou trabalhos científicos sobre Medicina e Farmácia, contos e crônicas de viagens, estudos históricos, sobre pintura, belas-artes e literatura em geral.

Seus dias de industrial farmacêutico findaram quando vendeu seu laboratório ao grupo internacional Roussel. Tal fato é absolutamente comum no Brasil, onde o industrial não é efetivamente apoiado por nossos governos, ou se o é, são apenas uns poucos Ministérios enquanto que outros lhe viram as costas.

Penso que minha indicação para ocupar essa cadeira de nº 63 é exatamente por também ser farmacêutico e industrial do setor. Penso também que é uma forma do Dr. Lauro vingar-se de mim.

Brincadeiras à parte sou obrigado agora a falar um pouco de mim, como é a praxe da Academia. Devo dizer que isto é algo que não me deixa à vontade, pois parto do princípio que são vocês que devem julgar-me por meus atos e posicionamentos que sempre estiveram carregados de transparência, de uma intensidade própria de mim, de muito idealismo e de ideologia liberal (não essa recente onda de neo-liberalismo que quase levou o mundo a bancarrota, mas o verdadeiro liberalismo que é generoso, progressista, que emancipa o homem, que crê no valor do indivíduo e na convicção de que a base do progresso é a liberdade individual conquanto não infrinja a liberdade dos outros, e que também aceita a utilização dos poderes do Estado com o propósito de criar condições através das quais o indivíduo possa, livremente, crescer e expressar-se). Em síntese, pluralismo e liberdade.

Como disse, sou farmacêutico, formado pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo em 1970. Fiz a pós-graduação em Administração de Empresas e iniciei-me na Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo (ligada à USP).

Minha atividade na indústria farmacêutica iniciou-se muito cedo onde, desde menino, acompanhava meu pai, quando podia, até a pequena indústria da qual ele era proprietário.

Como estudante, terminei o curso ginasial e em vez da usual opção entre fazer o curso clássico (preparação para humanas) e o científico (preparação para exatas), fui estudar Química Industrial (profissionalizante) no Liceu Eduardo Prado. O curso era de 04 anos, mas no terceiro ano você já podia prestar vestibular. Aí chegando pensei: todos falam que vestibular é um bicho de sete cabeças; então para conhecer como é esse tão famigerado vestibular deixe-me prestá-lo para perder o medo e no ano próximo faço o 4º ano de Química juntamente com o “cursinho” e aí sim presto exame para valer para a Universidade.

Certamente a boa base que tinha, somada ao controle que normalmente tenho em horas difíceis, possibilitou-me, na primeira tentativa para ver como era um vestibular, ingressar na faculdade por mim escolhida que era a de Ciências Farmacêuticas.

Meu pai que também era farmacêutico formado por Piracicaba preocupou-se por ter escolhido a mesma profissão dele e com receio de ter influenciado minha opção, perguntava-me continuamente se era isso mesmo que queria. Dizia mais: que era uma profissão mal vista e não reconhecida pela sociedade, e sempre me questionava se não queria mudar para outra como, por exemplo, medicina ou mesmo diplomacia (sempre gostei de política). Pessoalmente penso sim que houve influência dele, mas tenho a mais absoluta convicção que é efetivamente o que queria estudar, apesar de ter aptidão para um enorme número de outras profissões.

Devo dizer-lhes que pela própria idade minha, vivi diretamente as muitas crises que a indústria farmacêutica passou, ou, quando menor, ouvi-as narradas pelo meu pai e sentidas no tenso ambiente que por vezes permeava nossa casa.

Uma das muitas lições tiradas destes maus momentos era que faltava à indústria farmacêutica nacional um importante componente chamado Inovação para ser menos agredida pelas crises e, mesmo que o fosse, mais facilmente passar por elas.

Com esse pensamento sempre vivo em minha mente, aproveitei uma oportunidade que tive após celebração de um contrato entre o Laboratório Neomed (empresa do meu pai) com uma empresa italiana em Gênova – Itália, para lá parti com a determinação de aprender a fazer vacinas em um período do dia, e no outro fazer uma pós-graduação em Farmacotecnia na Universidade de Gênova. Isto foi fundamental para “abrir” definitivamente minha visão para a Inovação e que sem ela eu seria mais um entre tantos.

De volta ao Brasil, nunca mais me afastei da idéia de sempre procurar desenvolver um diferencial tecnológico nos produtos a serem lançados no mercado. E isto foi feito durante anos, de forma modesta e dentro das limitadas possibilidades que possuía.

Quando houve a constituição da Biolab, uma nova sociedade com os irmãos Castro Marques, as possibilidades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação se expandiram muito e hoje mais de 7% de nosso faturamento é aplicado nessa área que é de minha responsabilidade na empresa. Como resultado a Biolab possui 193 documentos de patentes, sendo 11 concedidas nos USA, Canadá, China e etc. Após anos trilhando o caminho da Inovação, a Biolab é hoje o laboratório de referência quando o assunto é Pesquisa e Desenvolvimento.

Mas não foi de graça, ou sem intenção que no início de minha explanação eu contei-lhes que meu pai preocupado com minha escolha profissional perguntava-me se não queria fazer carreira médica ou política.

Médico não me apetecia, mas política sim. Na verdade, desde os 13 anos já me interessava pelo tema. Posteriormente veio março de 1964 e a Revolução (ou não) com os militares tomando o poder durante longos 20 e tantos anos. Enfim, mesmo quem não gostava de política não conseguia ficar ausente daquelas discussões.

A verdade é que a forte militância estudantil facilitou-me na movimentação das questões institucionais, empresariais corporativas e entidades patronais representativas do setor.

Assim, participei da 1ª entidade das indústrias farmacêuticas nacionais denominada ANIFAR – Associação Nacional das Indústrias Farmacêuticas, que posteriormente, por indução governamental uniu-se à ABIF – Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (entidade das empresas multinacionais), constituindo a ABIFARMA (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica).

Posteriormente, junto com um grupo de nacionais, abrimos dissidência dentro da ABIFARMA por não representar nossos interesses e constituímos a CIQUIFAN – Câmara da Indústria Química e Farmacêutica Nacional. Poucos anos depois nosso grupo, após perder as eleições para quem viriam a ser meus atuais sócios, os irmãos Marques, separou-se de CIQUIFAN e constituímos a GEFAR – Grupo Empresarial Farmacêutico Nacional Independente (eram as empresas de propaganda médica).

Após percebermos que a divisão das empresas nacionais só enfraquecia o segmento, fundimos a CIQUIFAN e a GEFAR e formamos a ALANAC que existe e persiste até hoje, há mais de 30 anos.

Nesse momento acabamos de fundar uma nova associação, a FARMABRASIL, que é composta pelas empresas farmacêuticas que fazem PD&I no Brasil e da qual sou vice-presidente.

Em todas essas entidades mencionadas fui fundador, diretor e Presidente delas. Também exerci a Presidência da ALIFAR – Associação Latino Americana da Indústria Farmacêutica, entidade maior que representa os interesses latino-americanos na Organização Mundial de Saúde e Organização Pan Americana de Saúde, Organização Mundial de Propriedade Industrial e outras.

Também sou fundador da PROTEC – Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica, do IPD-FARMA – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos e da minha respeitada ABIFINA – Associação Brasileira de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades, da qual sou Vice-Presidente do Setor Farmacêutico.

Como podem ver, ao longo dos meus anos de forte atividade industrial, tive a oportunidade e fiz política sem nunca descuidar da empresa. Ao contrário, cuidava dos interesses dos associados e conseqüentemente da própria Biolab.

Toda essa minha participação política sempre teve como objetivos a melhora de posicionamento do setor nacional junto aos governos e a sociedade em geral, o desenvolvimento de uma indústria forte e competente para reduzir a dependência externa, estimular para que mais indústrias adentrassem ao PD&I, e principalmente, aumentar o acesso da população aos medicamentos.

Tudo o que lhes contei e muito também do que não lhes contei não caiu graciosamente em minhas mãos. Tive que buscar cada fato/ acontecimento aqui relatado com enorme esforço, dedicação e idealismo, muitas vezes tirando forças do ar, pois nada mais havia em volta de mim. Sacrifiquei muitas vezes minha Família e a ela peço que me perdoem pelas minhas ausências e, inúmeras vezes a falta de proximidade tão importante para o bem conviver. Muito do que fiz foi por amor a vocês. Sem entrar em detalhes, uma especial referência a Adelaide, Dinha, minha esposa, uma lutadora.

Também contei com amigos queridos que prefiro não mencionar para não ser injusto com algum que venha a esquecer e com professores que muito me estimularam; agradeço aos meus falecidos pais Dante e Helena, que me deram a base de tudo que sou, aos meus irmãos sempre presentes, aos meus sogro e sogra que me mostraram com fatos o que é coragem e determinação, ao sempre competente time com que posso e pude contar e finalmente aos meus sócios que muito me apoiaram para que pudesse realizar parte do meu relato.